ActionAid comenta aumento da pobreza e da extrema pobreza no Brasil
RIO DE JANEIRO, 05.12.2018 – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na manhã desta quarta-feira, a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), que traz um diagnóstico da situação da pobreza e da extrema pobreza no país, passando, inclusive, por sua multidimensionalidade. Ou seja, os dados ajudam a diagnosticar algumas das condições de vida que caracterizam a situação de vulnerabilidade social, como renda, acesso a saneamento básico, educação e moradia adequada, entre outros.
Para além do preocupante aumento da pobreza e da extrema pobreza entre 2016 e 2017, contingentes que somam 54,8 milhões e 15,2 milhões de pessoas, respectivamente, chamam atenção os perfis desses brasileiros que são, majoritariamente, mulheres e negros. De acordo com a SIS, os pretos ou pardos representavam, em 2017, 75,2% das pessoas com os 10% menores rendimentos do país. Já 64% dos domicílios que tem como responsáveis mulheres pretas ou pardas, sem cônjuges e com filhos de até 14 anos estavam abaixo da linha da pobreza. O cálculo de pobreza e extrema pobreza foi feito com base em parâmetros usados pelo Banco Mundial.
A organização internacional de combate à pobreza ActionAid alerta para a necessidade de toda a sociedade brasileira olhar atentamente para a tradução desses números no dia a dia de milhões de cidadãos e chama a atenção para o crescimento mais acentuado da extrema pobreza:
“Quando uma pessoa chega à situação de extrema pobreza, isso significa que ela está desprovida de condições para enfrentar as necessidades mais básicas. É como ficar sem saída. Claramente, não há emprego suficiente e estável, e não há acesso a políticas públicas de forma suficiente para se criar as condições para estas pessoas trilharem seus caminhos de saída desta situação. É preciso criar e, em alguns casos, retomar ou fortalecer políticas públicas que se mostraram eficazes, além, claro, da geração de empregos com dignidade e que garantam condições de cidadania”, afirma Francisco Menezes, analista de Políticas e Programas da ActionAid no Brasil, que completa:
“Vamos olhar além da renda: por exemplo, são 12,2 milhões de brasileiros que vivem em casas com alto adensamento, ou seja, tem mais de três pessoas dormindo num mesmo quarto. Como estas pessoas constroem suas individualidades, sua privacidade? Qual a condição de saúde emocional desses brasileiros? Entre as pessoas em situação de pobreza, 57,6% tinham restrição de acesso a pelo menos um serviço de saneamento. Ou seja, não têm acesso a coleta de lixo, fornecimento de água ou esgoto. Ou dois desses, ou os três. A probabilidade dessas pessoas adoecerem é muito maior. E, se adoecem, como vão trabalhar? Agora imagine se são trabalhadores informais? É quase uma porta giratória da pobreza”.
Para Menezes, é impossível dissociar o quadro apresentado da atual situação de diminuição do emprego e do aumento da precariedade e informalidade do trabalho no Brasil:
“Chama atenção a quantidade de pessoas que gostariam de trabalhar por mais horas e não conseguem. Se você associa precariedade no trabalho com informalidade, isso gera agravamento da situação presente e cria uma preocupação muito grande com o futuro, em relação à Previdência”.
No que diz respeito à estimativa que o IBGE faz de quanto seria necessário investir para erradicar a pobreza, R$ 10,2 bilhões por mês, ou R$ 122,4 bilhões por ano, seja em benefícios sociais ou em geração de empregos, Menezes chama atenção para o longo caminho que ainda precisamos trilhar:
“Por exemplo, se tomamos os repasses do Bolsa Família, do Benefício da Prestação Continuada para idosos e para deficientes, eles somaram, também em 2017, R$ 83,1 bilhões. Estas políticas são muito importantes diante do atual quadro de vulnerabilidade social, mas são insuficientes. De acordo com o IBGE, ainda precisamos de mais de uma centena de bilhões de reais para erradicar a pobreza. O Estado brasileiro precisa olhar para esta situação considerando toda a sua complexidade, e colocar todos os esforços necessários para promover a cidadania no país”.
Sobre a ActionAid:
A ActionAid é uma organização internacional de combate à pobreza presente em 45 países. No Brasil, atua desde 1999 realizando projetos pela garantia dos direitos à alimentação, igualdade de gênero, participação popular e educação.