Guardiões do Cerrado
Você sabia que menos de 1% da água doce existente no mundo encontra-se disponível para os ecossistemas e para uso humano? Não é à toa que, em 2018, a água estará no centro dos debates. E das disputas.
Nesta semana, enquanto grandes corporações estarão reunidas no Fórum Mundial da Água para avançar sobre o controle dos recursos hídricos do planeta; movimentos sociais, organizações comunitárias, povos indígenas e tradicionais vão defender o acesso à água como um direito humano fundamental, no Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA).
Conforme a exploração da água aumenta – considera-se que a agropecuária em larga escala já é a responsável pelo consumo de 70% de toda a água doce disponível, – vemos o recurso perder seu caráter de bem comum e se tornar mercadoria. Com isso, o acesso humano à água e ao saneamento ficam em segundo plano.
Mas o que o Cerrado tem a ver com isso?
O Cerrado é conhecido como o berço das águas, pois é nesta região onde nascem as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata. Para se ter ideia, mais de 50% da energia produzida no país é gerada pelas águas do Cerrado. Porém, ele e seus povos tradicionais estão sob ameaça: 52% do bioma já foram devastados.
Além disso, atualmente, o Cerrado é o principal território por onde avança o agronegócio no país, sendo devastado mais rápido que a Amazônia. Se o atual ritmo de devastação for mantido, o bioma pode desaparecer até 2030.
A expansão do agronegócio, da mineração e das hidrelétricas se dá sobre territórios utilizados por povos indígenas e comunidades tradicionais, atingindo duramente essas populações e seus meios de vida. Por conta disso, o Cerrado tem sido palco de constantes conflitos por terra e água no país, ficando atrás apenas da Amazônia.
As mulheres são as mais atingidas por esses processos, já são elas que desempenham um papel fundamental na gestão comunitária das águas, em decorrência da desigualdade histórica das relações de gênero. Com o acesso a esse recurso ameaçado, elas têm que improvisar meios para cuidar da casa, das crianças e idosos, das hortas e dos sistemas agroflorestais.
Os povos indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, vazanteiros continuam resistindo e afirmando seus modos de vida tradicionais como guardiões dos recursos naturais – sobretudo das águas. Estamos com eles em defesa do Cerrado. Junte-se a nós e exija que a área seja decretada Patrimônio Nacional.